Porque eu sou bonito

 

Jennifer Prado

 

Setembro de 2002

 

 

 

As mulheres de Nova Iorque tornam minha vida muito fácil. Elas estão acostumadas a comprarem coisas bonitas. Elas sabem onde estão as melhores limpezas de pele e as massagens mais relaxantes. Sabem como insistir para conseguir ganhar uma amostra da maquiadora, mesmo que tenham que comprar mais um produto. As mulheres de Nova Iorque querem mais. Elas não são complacentes e não é fácil satisfazê-las. Elas têm um esquecido senso de humildade. Querem viver mais de uma vida e nunca querem ficar grisalhas. Elas me desejam porque eu sou bonito. Eu fui criado para diversão. Eu sou o tipo com quem elas nunca se casariam. Eu não trabalharia para sustentá-las. Sou apenas um brinquedo com quem elas brincam. Sou o garotão ao lado delas, porque eu sei do que elas precisam. Eu dou o que elas desejam, contanto que elas me ajudem.

 

Eu tenho vinte e cinco anos e ainda sou estudante. Meus pais pagam minha educação e meu aluguel, e as mulheres pagam minhas roupas e meu estilo de vida. Eu sou filho único, o que me convém. É assim que meus pais expressam o quanto eu sou importante para eles. Meus cabelos são longos. Os únicos homens que têm cabelos longos em Nova Iorque são estudantes e desempregados profissionais. Meus cabelos atraem a atenção das mulheres porque me fazem diferente do que elas estão acostumadas. Vou contar como eu as encontro. Rostos femininos são mais fáceis de ler do que os masculinos. As mulheres se entregam em apenas alguns minutos e poucos gestos. A chave é não fazer nada e dar a impressão de que estou esperando por alguém. Tem que parecer que eu estou esperando que uma mulher apareça em minha vida. Então eu espero. Se eu for paciente, elas aparecerão.

 

Eu vejo Stephanie antes de ela entrar no café. Ela está vestida toda de branco e traz um cachorro minúsculo em uma coleira. Cachorrinhos sempre gostam de mim. Eles sentem meu cheiro e trazem suas donas para mim. Nós conversamos de cachorro para cachorro.

 

- Ele é tão bonzinho – eu digo. Stephanie sorri e agrada o cachorrinho.

- Ele não é um doce? Ele é meu Príncipe William.

Esta vai ser fácil. Qualquer mulher que goste de seu cachorro e do Príncipe William está procurando um cara como eu. E eu estou aqui. Eu não vivo em um palácio na Inglaterra.

- Você é bonita – eu digo, dando um olhar maroto. – Veio fazer compras? – Ela usa uma aliança de ouro e um anel de diamantes. Ela é casada.

- Sim, eu gosto das lojas aqui. Acabei de comprar umas coisinhas.

- Posso ver o que você comprou? – Seu marido nunca vai dizer uma coisa dessas, ele só paga a conta. Ela ri. Príncipe William se enrola na minha perna e cheira minhas meias.

- Eu não posso mostrar – ela fala.

- Por que não? Me deixa ver.

- Porque eu comprei lingeries. – Ela ri bem alto e olha a sua volta. Eu sei como medir a risada de uma mulher e sei que a estou deixando nervosa.

- Mostra, eu quero ver. Você parece ter bom gosto.

- É verdade, eu tenho bom gosto. – Agora ela olha pra mim. Eu sei que eu vou ter que deixá-la fazer algumas perguntas, pra se acalmar. – Você faz o quê?

- Eu sou estudante, último ano. – Faz três anos que eu falo a mesma coisa.

- Estuda o que?

- Arquitetura – eu digo. Isso vai nos dar a chance de ter algo sobre o que falar mais tarde, quando formos dar uma volta. Eu posso apontar prédios históricos e contar suas histórias. Na verdade, eu estudo administração, já que sou um entrepreneur por natureza.

- Ah, muito bem. Meu mari... – ela para de falar. Ela quase acaba de me dizer o que seu marido faz, mas muda de idéia. Ela não quer pensar em seu marido agora, porque ela está pensando em mim.

- Você vai me deixar ver o que comprou? – Eu dou uma olhada dentro da sacola e me afasto, só para brincar. Em minha primeira abordagem eu sou como um cachorrinho. Eu sabia que isso ia funcionar com Stephanie, porque ela tem o rosto de uma mulher que leva cachorrinhos abandonados para casa.

- Pare – ela fala, com voz de menina. – OK. Eu vou mostrar só uma coisa. – Eu arregalo os olhos como se estivesse morrendo de vontade de ver. Ela tira uma camisola preta de dentro da sacola e sacode – Ta-nan! – ela diz, de forma um pouco patética.

- Eu ia adorar ver você vestindo ela.

- Sério?

- Sério. E depois eu ia adorar ajudar você a tirá-la.- Eu acabei de criar uma ilusão. Ela acredita que eu fui tomado por seu charme e beleza. Ela está pensando: eu estou deixando o menino louco. Eu sei que eu vou ter que me levantar para ela poder verificar a mercadoria. As mulheres de Nova Iorque têm instintos de compra refinados.

Então eu me levanto e mostro a ela como eu sou alto e malhado. Eu a pego olhando para meus ombros. Eu me visto de forma intencional. Eu uso uma jaqueta italiana de cashemere para mostrar que tenho estilo. Por baixo, eu uso um suéter de gola alta com um furo na frente, para mostrar que eu tenho fome. Não é fácil manter um suéter furado perto dessas mulheres. Elas sempre tiram ele de mim. Elas mandam arrumá-lo, me dão um novo que estava no armário de seus filhos, e algumas costuram elas mesmas com o amor que sentem por mim. Algumas vezes eu tenho que pegar a tesoura e fazer um furo novo para manter o estilo.

- Você vai me falar seu nome? – A estrutura da frase é intencional. Soa como se ela ainda estivesse no controle. Ela é quem decide.

- É Stephanie, - ela diz e pisca muito. Quando uma mulher pisca rapidamente é porque suas pupilas estão dilatando. Seu corpo mostra desejo.

- Meu nome é Randy – e eu beijo sua mão. Meu nome é de menino, mas eu sei agir como homem.

- Eu quero te levar pra outro lugar – ela diz.

- Pode levar. Eu sou seu.

 

Nós paramos em uma farmácia. Stephanie coloca seus óculos escuros e hesita mediante tantas opções.

- Hum – ela diz, enquanto olha – Faz tempo que não compro isso. – Eu quero ajudar. Eu escolho a marca de camisinhas de que gosto.

- Estas são boas – eu digo. Eu sempre me protejo. Eu sei o valor do meu produto e quero protegê-lo. Além disso, as mulheres acham que me devem algo se elas se arriscam comigo, e sua raiva me cansa. É mais fácil me proteger. Eu coloco um saco de biscoitos para cachorro no balcão. – Pro Príncipe William – eu digo, e faço minha melhor cara de cachorrinho.

- Você é um doce – ela diz, e seus olhos se enchem de gratidão.

 

Stephanie me leva para um pequeno apartamento que ela tem no centro. O carpete e a mobília também são brancos.

- Você gosta de tudo “clean” – eu digo enquanto olho para o apartamento.

- Branco significa pureza e paz – ela diz. Eu posso afirmar que Stephanie está repetindo o que o decorador disse. Ela me conta mais tarde que vive com sua família em Connecticut. Mulheres casadas tornam minha vida muito mais fácil. Elas se divertem comigo, me dão presentes e depois são tomadas pela culpa. Elas me escrevem bilhetes bonitos, me dão vinhos caros e dizem que vão pensar em mim pelo resto de suas vidas. Elas choram quando se despedem. Lágrimas verdadeiras para um amor que vai embora. Mulheres casadas somem depois de um conveniente período e dão espaço para novas mulheres. Às vezes, uma delas se desespera. Sem que eu peça ou encoraje, ela abandona seu marido e filhos e vai atrás de mim. É aí que eu tenho que sumir. Eu desconecto meu telefone celular e encerro minha conta de e-mail. Eu a deixo pensando o que aconteceu comigo, agora que ela tem espaço para mim em sua vida. Elas se deixam levar. Dá um trabalhão. Eu tenho que telefonar para todas as mulheres que ainda vejo e dar meu novo número.

 

Príncipe William se delicia com seus biscoitos atrás da porta fechada do quarto. Ele tenta colocar seu pequeno focinho debaixo da porta e cheirar. Ele sabe o que está acontecendo.

- Eu vou te ver vestindo aquela camisola?

- Espera – ela vai para trás do biombo que todo apartamento em Nova Iorque deve ter. Eu me levanto, tiro minha carteira do bolso e coloco debaixo do colchão. Quando as mulheres ficam curiosas elas param de fazer perguntas e começam a bisbilhotar. Eu não quero que Stephanie saiba meu sobrenome ou onde eu moro. Dessa forma eu posso relaxar mais tarde, enquanto tomo banho e ela procura minha carteira.

Stephanie sai de trás do biombo. A camisola fica bonita nela. Ela é uma mulher que se cuida. Eu posso afirmar que ela se sacrifica: dietas, malhação e cremes caríssimos.

- Uau – eu digo. – Você está tão bonita. Vem cá. – Eu a puxo para mim e beijo seus olhos, seu pescoço e seu rosto. Eu suspiro – Você está tão cheirosa. – Stephanie ri e cola sua boca na minha. Eu tremo e a beijo longamente. Eu invisto muito tempo beijando, porque é isso que essas mulheres querem. Elas querem ser beijadas mais do que elas querem sexo. Beijo é algo que elas não tem mais em casa.

Quando nós acabamos, Stephanie me abraça e chora.

- Você me fez sentir tão bem – ela diz. Eu dei a ela o Pacote Expresso: ela se sente jovem, sexy e invencível. Eu dei a ela o prazer de uma experiência sexual sem amarras. Ela não sente raiva nem ressentimento. Não há nenhum catálogo mental para folhear em busca de discussões e tristezas do passado. Eu dei amor puro, mas eu não investi nenhuma emoção nisso. Depois do sexo, essas mulheres ficam frágeis e precisam ser abraçadas. Elas começam a pensar no que acabaram de fazer e se distraem. Algumas querem que eu mame em seus seios enquanto elas cantam canções de ninar. Outras me colocam na banheira e me banham. Stephanie quer que eu brinque com seus cabelos enquanto ela chupa meu polegar.

- Ah meu bebê – ela diz – eu estão tão feliz agora que te encontrei. – Stephanie acaba de se entregar. Me chamando de bebê ou qualquer outro apelido, ela mostra que eu a fisguei com minha isca. Eu agora sou seu segundo bicho de estimação. Agora, eu tenho que atuar um pouco. Eu cubro meu rosto com minhas mãos.

- Oh – eu digo com uma voz triste – minha namora vai me matar. Eu sempre fui fiel a ela até hoje.

- Ah bebê – ela diz e se senta. – Essas coisas acontecem. – Ela está me defendendo.

- Eu não consegui resistir a você, porque você é tão bonita. Mulheres são meu ponto fraco. Elas me enfraquecem. – Stephanie me abraça e beija meu pescoço.

- Você é um doce. Você ama sua namorada? – Eu afirmo e olho para ela com um olhar preocupado. – Então nada pode mudar isso. Nem eu nem ninguém. É só você não contar para ela. – Essas mulheres sempre querem que todos sejam honestos com elas, mas elas querem que as demais mulheres só ouçam mentiras. Contando pra ela que eu tenho uma namorada, eu construí uma barreira que ela agora terá que respeitar. Em vez de ficar brava comigo, com minha tendência a ser infiel, ela sente pena de minha namorada. Ela irá suspirar e pensar “Coitada dessa menina. Ela ama um garoto que é irresistível”. Ela vai se lembrar de um garoto que ela amou há muito tempo, que sempre a traía mas a quem ela sempre perdoava.

- Eu acho que as mulheres me atraem porque eu sinto falta de minha mãe. – eu digo – Ela mora na Califórnia e eu quase não a vejo.

- Ah meu bebê – ela diz, e me abraça e se dá mais. Minha mãe simiu e eu não tenho namorada. A única pessoa que eu amo sou eu mesmo.

Depois que tomamos banho, é hora de eu ir embora. Eu espero Stephanie ir para o banheiro e fechar a porta. Príncipe William corre para mim, pula na cama e cheira os lençóis. Eu pisco para ele e ele late. Nós nos entendemos. Eu pego minha carteira debaixo do colchão.

- Você precisa de alguma coisa? – Stephanie pergunta enquanto escova seus cabelos molhados. Eu ergo os ombros como se estivesse com vergonha de admitir algo para ela. Ela aponta para sua bolsa na mesa. – Abre – ela diz. Eu me afasto.

- Você não tem que fazer isso – eu digo. – Eu vou pegar o metrô. – Eu abro minha carteira e mostro a ela um bilhete de metrô. Eu tenho que provar que sou auto-suficiente.

- Pegue um pouco de dinheiro para um táxi – ela diz. Ela aponta pra sua bolsa de novo. – Pegue, por favor. – Ela me olha enquanto eu me aproximo de sua bolsa. É um estranho ritual que essas mulheres têm. Elas gostam de olhar enquanto eu pego dinheiro de dentro de suas bolsas. Eu pego uma nota de vinte e mostro para ela. – Pegue mais – ela diz. Eu nunca roubo essas mulheres porque eu não preciso fazer isso. Elas gostam de me dar dinheiro.

 

Stephanie quer que eu vá com ela a um evento de caridade no centro. Ela alugou um smoking para mim e eu a encontro em seu apartamento para tomar um banho e me vestir.

- Você está incrível – ela diz, e arruma minha gravata. – Mas agora eu quero que você tire a roupa. Nós temos tempo. Você pode tomar outro banho. – Eu tiro o casaco, coloco nas costas de uma cadeira e abraço Stephanie. – Não amasse sua roupa. – Ela alisa minha camisa com suas mãos. Eu sou seu acessório esta noite e ela quer que eu esteja lindo.

 

O evento de caridade me leva para um outro mundo. Está cheio de socialites e poderosos executivos. Essas pessoas têm muito dinheiro para dar, mas eu sei que tenho que me comportar. Esta noite não é para pegar novos números de telefone. Stephanie passa a noite toda de braços dados comigo e cumprimenta as pessoas que ela conhece. Ela dá um sorriso e abraça uma mulher loira de cabelos precisamente penteados, vestida com um terno de grife.

- Randy – ela diz – esta é minha irmã, Grace. – Grace parece familiar. Eu já vi seu rosto nas revistas de negócios que eu folheio às vezes enquanto espero o trem. Ela é CEO de alguma empresa. É uma dessas mulheres que quebram tabus. Ela aperta minha mão e me olha com curiosidade.

- Onde você o encontrou? – ela pergunta.

- Ele é um amigo de escola do Andrew – diz Stephanie. Andrew é seu filho. Faz sentido dizer isso, já que nós temos a mesma idade. Faz parecer verdade. Grace dá uma volta ao meu redor e me olha.

- Muito bem – ela diz. Eu já vi duas mulheres que se conhecem mostrarem interesse em mim antes. As mulheres são tão diferentes dos homens, nesse sentido. Homens tratam mulheres que eles não amam como uma propriedade socialista. Um homem se aproxima de outro, coloca a mão em suas costas e diz: Ela é bonita. Você gosta muito dela? Você se importa de compartilhar? – Isso lhes dá um assunto para conversar mais tarde, um interesse comum, como tênis ou golfe. As mulheres são furtivas e discretas sobre isso. Muitas vezes, em festas, quando a mulher com quem eu estou vai ao toalete, sua amiga, que bebeu um pouco além da conta, belisca meu traseiro e sorri.

- Eu quero você – ela diz. – Mas só pra mim. – As mulheres passam por cima das outras para ficarem comigo. Elas são capazes de quase tudo. Elas telefonam para um jornal para relatar uma história falsa sobre suas amigas. Elas se tornam garotas de recado e contam para o marido. Uma mulher vai contar a uma amiga, as duas chorando com uma caixa de lenços ao lado, que eu a persegui até cansar. Elas vão se chamar de piranhas e cortar qualquer forma de contato. É aí que eu escapo.

- Eu nunca quis destruir uma amizade – eu digo, com minha cara de cachorrinho triste. Eu nunca estive envolvido com irmãs antes e não faço idéia do que elas são capazes.

Quando Stephanie vai ao toalete, eu me aproximo de Grace, seguro seu braço e sussurro em seu ouvido:

- O que eu tenho com Stephanie é maravilhoso. Mas eu sinto uma atração especial por mulheres poderosas. – Grace não sorri. Ela coloca as mãos nos quadris e me olha. Ela tira um cartão de visitas de sua bolsa.

- Venha ao meu escritório amanhã às 4h30. Aí a gente conversa.

 

Seu escritório ocupa vários andares de um edifício na Fifth Avenue. A suíte executiva é no último andar e tem vista para o Central Park. Grace me espera na porta e aperta minha mão. A recepcionista, que me deixou entrar, passa perto de mim e torce o pescoço para dar uma olhada melhor.

- Traga uma xícara de café pro meu sobrinho – Grace diz, e a garota vai. Ela volta e coloca uma minúscula xícara de expresso na minha frente. – Feche a porta – Grace diz. A garota quase faz uma reverência quando sai do escritório.

- Eu faço as regras – ela diz, e me olha enquanto eu tomo café.

- E quais são elas?

- Você tem que ser discreto. Você sempre diz que é meu sobrinho. Você aparece quando nós marcamos um encontro. Você faz o que eu quero. Você não magoa Stephanie. – Ela coloca um envelope na mesa. – Diz se isso é suficiente. – Eu abro o envelope e dentro dele tem mais dinheiro do que o aluguel do meu apartamento.

- Isso é por semana ou mês?

- Semana. Eu vou marcar dois encontros. Você pega o dinheiro após o segundo encontro. – Ela me dá um Palm Pilot. – Leva isso. Eu já marquei nossos encontros para os próximos dois meses. Alguma dúvida? – Eu coloco a xícara de café na mesa e balanço a cabeça. – Mais uma condição – ela diz. – Nunca se atrase.

- E seu eu me atrasar?

- Você está despedido. – Ela me acompanha, abre a porta e aperta minha mão novamente.

 

Stephanie quer que eu vá fazer compras com ela. Eu me faço útil. Eu carrego todas as sacolas e me sento enquanto ela está no provador. Ela aparece vestindo uma roupa nova e pergunta o que eu acho. Eu digo que ela está bonita. Eu estou oferecendo um serviço que seu marido nunca irá oferecer. Depois disso, nós vamos até seu apartamento outra vez. Ela se despe no hall de entrada e anda nua pelo apartamento.

- Vem aqui, meu lindo amante. – Eu tiro meus sapatos e pulo na cama, e a cama sacode Stephanie. Ela ri como se estivesse com cócegas. Eu a abraço e beijo seu pescoço.

- Vamos fazer algo que nunca fizemos- eu digo.

- O que, por exemplo? – ela diz, ansiosa.

- Eu posso trazer um amigo da escola, da próxima vez?

- Outro homem?

Eu afirmo e corro um dedo sobre seu peito.

- Seria divertido. Você merece tratamento completo.

- Eu nunca tive dois homens ao mesmo tempo. Eu não saberia o que fazer.
            - Eu posso te mostrar. Prometo que vai ser bom pra você.

- Como você pode saber tanto sendo tão jovem?

- Eu amo mulheres. Elas me fazem querer tentar coisas novas.

- Você é suficiente pra mim, Randy. Eu não preciso de mais ninguém. – Ela cola sua boca na minha. Eu nunca tive intenção alguma de trazer outro homem. Eu só queria que ela admitisse o quanto ela precisa de mim. Meu professor de marketing disse: “Crie demanda para justificar a mercadoria.” Eu sou a mercadoria.

 

Meu novo Palm Pilot contém muita informação, e eu estou me divertindo aprendendo a usá-lo. Grace programou início, local e término para cada um de nossos encontros. Eu tenho que encontrá-la em dois hotéis no centro, um às terças e outro às quintas. Há instruções adicionais. Eu não faço check-in na recepção, eu vou direto ao elevador e bato à porta do quarto.

- Oi princesa – eu digo.

- Ah por favor! Tire a roupa e deite na cama. – Eu deito de costas e ela me examina.

- Você é saudável?

- Saudável e sempre protegido. – Este é o slogan do meu produto.

- Ótimo, então vamos começar. – Ela tira a roupa e me monta. Eu a beijo.

- Nada de beijos – ela diz, e empurra meu rosto com suas mãos.

Tudo vai bem nos dois primeiros meses. Eu vou a todos os encontros com Grace, ainda tenho tempo para Stephanie e continuo saindo com minhas outras mulheres. Eu estou me saindo bem. Eu invisto parte de meus ganhos em um novo guarda-roupa e a outra metade em um fundo mútuo confiável. Estou planejando férias, e vou sozinho. Talvez eu me mude para um apartamento maior. Stephanie me telefona e pede pra me encontrar em seu apartamento. Ela parece estar sem fôlego. Eu devia saber onde estava me metendo.

Príncipe William corre em círculos ao meu redor quando eu entro. Eu me abaixo para falar com meu melhor amigo.

- Oi garoto, cheguei. – Ele sobe na minha perna e começa a se esfregar.

- Não é o máximo? Você o excita como faz comigo. – Stephanie diz. Eu vejo as malas encostadas na parede, e respiro fundo.

- O que aconteceu, Stephanie?

- Oh Randy, eu cansei de levar uma vida dupla. Eu contei tudo ao meu marido. Eu disse que ia viver com você aqui. – Eu me afasto.

- Eu não posso viver aqui com você. Eu amo minha namorada – eu digo.

- Você ainda pode sair com ela. Eu não me importo. Eu só quero passar mais tempo com você. – Ela deita na cama e pede pra eu deitar com ela.

- Stephanie – eu digo com carinho – isso não é possível. Ela se senta e imediatamente se transforma. Se você nunca presenciou uma mulher se transformar em um animal selvagem, é um tremendo choque e uma visão nada agradável.

- Por que não?

- Porque não. Não. Eu não vou morar aqui com você. – Eu não imagino que ela vá começar a jogar coisas em mim e não tenho tempo de me defender quando o primeiro objeto me acerta em cheio.

- Stephanie, se acalme - eu digo. Ela está arrancando os quadros da parede e quebrando em seu joelho. Ela precisa dos pedaços de moldura pra jogar. Ela os atira como se estivesse jogando lanças.

- Não não é uma opção. Eu me recuso a ouvir não.

- Stephanie você não me deixa opção. Eu não posso aceitar esse comportamento. Eu vou embora. – Ela se joga aos meus pés, segura meus tornozelos e chora. Príncipe William corre, lambe seu rosto, e ela o pega em seu colo.

- Não me deixe. Eu não posso voltar atrás.

- Eu sinto muito Stephanie. Nós nunca discutimos isso. Mas eu não posso. – Eu pego meu casaco e saio. Ainda ouço algo acertar a parede.

- Você vai se arrepender – ela grita.

 

Grace deixou uma mensagem em meu celular: “Tive que cancelar nossos encontros esta semana. Vou viajar a negócios.”

- Ótimo – eu penso enquanto descanso na sauna da nova academia que freqüento agora. – Eu mereço uma folga.

 

Stephanie parece tão calma no telefone que não há porque desconfiar. Eu ainda não desconectei meu telefone porque estou confiante e preguiçoso.

- Vem aqui, Randy, só mais uma vez. Eu tenho um presente de despedida pra você. Eu só quero dizer adeus da forma certa. Me desculpe pela última vez, eu estava com raiva. Estou melhor agora. – Então eu vou recolher meu prêmio de despedida.

Grace está atrás da porta, mas eu não a vejo até ela acertar minha cabeça com o secador de cabelos de metal. A força do golpe me derruba. As pessoas dizem ver estrelas, mas eu vejo pipocas. Eu vejo pipocas explodindo a minha frente.

- Ele está desmaiado? – Stephanie pergunta. Grace me olha.

- Não, ele está piscando – ela diz.

- Então dê outro golpe. – Eu paro de ver pipocas e tudo fica preto.

 

Quando eu acordo eu estou nu e minhas mãos amarradas atrás de mim. A coleira do Príncipe William está pendurada em meu pescoço.

- Levante – diz Grace. – Nós vamos dar uma volta.

 

O porteiro no hall corre atrás do espetáculo que nós criamos.

- Senhoras – ele grita. – O que está acontecendo?

- Nós vamos levar o cachorro para dar uma volta – diz Grace. Stephanie me coloca no banco de trás do Jaguar verde de Grace e Grace começar a dirigir. Quando nós chegamos na Times Square, Grace pára o carro.

- Sai do carro – ela diz.

- Por que vocês estão fazendo isso comigo? – eu pergunto. – A gente não pode conversar?

- Você magoou minha irmã. Você violou as regras.

- Você subestimou o amor fraterno, diz Stephanie. – Ele é mais forte do que o desejo por um homem.

- Eu sinto muito – eu digo.

- Tarde demais – diz Grace. Ela sai do carro, abre a porta e me puxa pelos cabelos. – Saia do carro.

Eu fico ali, parado, nu, no meio da Times Square. Viro e começo a caminhar. Uma câmera que está no topo de um edifício faz um zoom em mim e começa a filmar. Em segundos minha imagem aparece na famosa tela gigantesca. A multidão aponta para a tela enquanto eu passo por eles. Eles estão tão ocupados olhando para a TV que não me vêem. Eu caminho com as mãos amarradas às minhas costas. Em algum lugar, dedos ágeis digitam uma legenda: O homem nu de Times Square. O satélite captura a imagem e a distribui para o mundo todo. A legenda, com meu título, aparece na tela em letras vermelhas gigantes, e logo é substituída por outra notícia.

 

Jennifer Prado escreve para filmes independentes em Nova Iorque. Ela é formada em Ficção pela Universidade de Wisconsin – Madison e concluiu um curso em Filme e Vídeo em Nova Iorque. Além de inglês, ela também escreve em português e espanhol. Seus contos e críticas de música foram publicados on-line. Ela concluiu recentemente seu primeiro romance, Love and Sex, e no momento está tentando achar seu caminho no perplexo mundo de agentes e editoras em Nova Iorque. Você pode falar com ela em JenniferPrado@yahoo.com