Encontro inaugural:

211 Club (Um bilhar)

Seattle, Washington, EUA

 

O Novo Homem. O que há com ele?

 

Yves Jaques, Malcolm Lawrence,
Cason Swindle e Larry Swindle

Tradutor: Dorival Santos Scaliante

 

Apresentação de Malcolm Lawrence

Nesta era de reviravoltas radicais nos papéis dos gêneros, bem como na capacidade dos homens de se sentirem mais à vontade para discutir com outros seus sentimentos e relacionamentos, a Babel tem o orgulho de apresentar o Cavalo Marinho, um fórum regular que, apenas por acaso, foi inaugurado por quatro caras brancos em uma mesa, conversando, mas que de maneira alguma pretende ter somente vozes masculinas e de origem européia branca nos lances futuros do fórum.

Sou atento a essas mudanças nos papéis dos gêneros na cultura ocidental desde que comecei a fazer cursos sobre Estudos da Mulher como universitário em 1985, quando, em geral, eram 25 mulheres e eu em uma sala de aula. Desde essa época, faço cursos sobre a questão do aborto, escrevo peças com somente mulheres no elenco, romances somente com a voz de uma protagonista feminina, e sempre li extensivamente sobre o que chamei de Guerra dos Gêneros. E eu ainda sou solteiro, também.

Yves Jaques e eu somos amigos desde 1985, quando nos conhecemos em um fim de semana em que ele visitava a casa em que eu estava morando, enquanto freqüentava a Western Washington University de Bellingham, Washington. Yves é autor de romances, contos, peças faladas e de não-ficção, além de ser músico, viajante contumaz pelo mundo, e casado com a pintora Sienna Reid, personagem atuante no cenário artístico de Seattle. O filho deles, Marcel, tem seis anos. Yves e eu somos descendentes de europeus, também. Yves é suíço-austríaco e eu sou inglês.

Cason Swindle eu conheci em 1993, quando minhas freqüentes visitas a uma loja de material de escritório no centro de Seattle acabaram me fazendo ficar muito conhecido de sua esposa, Julia. Cason é aluno da Antioch University e também dirige um negócio próprio, que será abordado no curso de nossa discussão.

Cason e Yves se conheceram no ciberespaço, quando eu enviei uma observação provocante via e-mail para alguns amigos do meu catálogo de endereços, comentando o sincronismo no fato de Bill Gates e Madonna terem declarado, com um intervalo de dias entre um e outro, o quanto desejavam ter filhos. Coloquei o título "A Prole dos Super-Realizadores" no meu mail, e quando Yves enviou uma resposta ao meu comentário para todo mundo da lista, Cason ficou tão envolvido pela sua resposta que ele próprio enviou um mail para Yves, e logo uma ciberamizade começava a se desenvolver.

Quando nós três percebemos o quanto cada um estava empolgado para inaugurar o Cavalo Marinho como um fórum dentro do contexto da Babel, e estávamos tentando agendar uma noite para podermos nos reunir, Cason comentou que seu pai, Larry, professor de uma universidade em Louisiana, estaria na cidade por um período curto e perguntou se estaríamos interessados em incluí-lo nos preparativos. Yves e eu achamos uma ótima idéia, principalmente porque, uma vez que estávamos para começar o fórum conversando exatamente sobre o que é o "Novo Homem", ter representadas duas gerações de homens da mesma família pelo menos ajudaria a conferir à conversa um toque a mais de profundidade nos processos.

Decidimos nos encontrar no 211 Pool Hall (um bilhar) na área de Belltown no centro de Seattle, bem no andar de cima do cibercafé Speakeasy e do posto de intercâmbio de informações em cujo servidor são, na verdade, abrigadas as páginas da Babel. Imaginamos que seria mais fácil para quatro caras brancos em uma mesa falando sobre o que significa ser homem no final dos anos 90 com o som de estalos de bolas de bilhar e muitas garrafas de cerveja na mesa.

Enquanto eu ia de carro para o 211, a música "Cat's In The Cradle" de Harry Chapin começou a tocar no rádio. Essa música, perfeita representante do começo dos anos 70, reflete com precisão como era freqüente o fato de o pai não ter tempo para o filho enquanto estava ocupado tentando ganhar dinheiro para criá-lo, o que inevitavelmente se repetirá mais tarde, quando o filho não tiver tempo para seu pai enquanto estiver ocupado demais tentando ganhar dinheiro para seu próprio filho, e assim por diante, com a repetição do ciclo, interminavelmente. Pensei que este seria um ponto perfeito para começarmos nossa discussão, quando comentei sobre o que eu acabara de ouvir no rádio para os outros três.

Larry Swindle: Eu lembro quando essa música apareceu no começo dos anos 70. "Cat’s In The Cradle" ficou muito conhecida e eu estava viajando nessa época. Fora de casa três noites por semana, em casa quatro noites por semana, mas às vezes fora de casa quatro noites por semana e a lembrança toda volta quando se ouve essa música, e se pensa: "Será que estou agindo certo? Minha nossa, estou aproveitando meu tempo? Será que isso vai se transformar na típica situação em que as crianças vão acabar dizendo: ‘E aí, quando cê vai ter tempo, pai? Vejo vocês mais tarde. Vocês sabem, tenho de sair.’" E você termina em lágrimas quando ouve isso e pensa: "Meu Deus! Me leve pra casa, apenas me leve pra casa."

E é engraçado que você tenha mencionado essa música, em especial, porque ela foi o maior sucesso nessa época no rádio, quando eu estava começando a criar meus filhos.

Malcolm Lawrence: Eu tenho um amigo, morei com ele há alguns anos, e ele costumava dizer que ESSA é uma das músicas mais importantes de todas as que ele consegue lembrar. Então é mesmo interessante ouvir que as duas gerações parecem dar um toque de importância emocional a essa música.

Yves Jaques: Sim, também acho isso muito engraçado, porque quando essa música sempre aparecia na rádio AM KJR enquanto eu crescia, meu pai trabalhava em tempo integral na Boeing e estava tentando conseguir seu mestrado em administração na universidade de Seattle. E simplesmente parecia que ele SEMPRE estava fora de casa.

Cason Swindle: É interessante, porque é uma coisa que eu olho e penso assim: "Bem, eu definitivamente não quero que isso venha a acontecer em minha vida." Eu sei que isso aconteceu em gerações anteriores. A possibilidade de "O papai sai de casa e trabalha. Sabe como é, ele SABE o que faz." E acho que os
babyboomers estão achando o mesmo, que "Não, a família é o que importa." Surge a mesma questão, que a família certamente é importante, mas como criar o equilíbrio perfeito entre, sim, trabalhar e fazer sua carreira e ter uma família, que é o que você deseja que sua carreira conceda tempo para realizar. Como dizer "sim" para sua carreira? Meu pai e eu falamos sobre isso o dia inteiro. Como encontrar o meio-termo perfeito? Bem, primeiro que isso não existe, porque esse ponto está sempre flutuando. Como equilibrar com êxito o trabalho, é isso o que se deseja fazer.

YJ: Isso pode ser um problema sem crianças. Nathan, um grande amigo meu e do Malcolm, era casado, e ele e a mulher pareciam ter um relacionamento muito forte, ou eu sempre achei que tinham, porque faziam uma porção de coisas juntos com seus amigos em comum, e também só os dois. Mas, depois de um tempo, isso meio que esmoreceu, chegou ao ponto em que sempre parecia que Nate saía com os amigos dele, e ela saía com as amigas dela, o que sempre me passou a visão distorcida de que isso é que era a força do relacionamento deles, de que eles não precisavam fazer tudo juntos, e então aconteceu que eles se divorciaram.

CS: Perceberam que não faziam NADA juntos. A questão toda é que na verdade eles faziam zero.

LS: E "Cat’s In The Cradle" é a mesma história. Ela ainda tem essa força de ataque. Cason e eu estávamos conversando antes sobre isso, hoje, e eu estava pensando "Você se sentiu abandonado?" porque eu saí do meu emprego e me mudei da Philadelphia para uma fazenda nas (florestas) Ozarks, com 25 acres, uma casa, porcos e galinhas. Deixei absolutamente tudo para trás, fomos "de mala e cuia".

CS: O verdadeiro "Campo dos Sonhos".

LS: Eu era o gerente regional mais jovem da Kaiser Aluminum, empenho máximo, dedicava meu empenho máximo à empresa. Era uma carreira, e eu pensava "Quero estar em casa quando meus filhos chegarem e contar histórias sobre... porquinhos, ou sei lá o quê, quando eles chegarem em casa, sobre o que aconteceu durante o dia, eu quero estar em casa."

Então, eu joguei pro alto e fomos para as Ozarks.

ML (para CS): Quantos anos você tinha quando isto aconteceu?

CS: Eu estava na terceira série.

LS: ...Em uma escola onde havia duas classes juntas, oito alunos—

CS: —cada professora lecionava para duas séries, terceira e quarta séries tendo aulas juntas. A professora dizia que não era "meramente" possível que estivéssemos na Via Láctea, porque nós conseguíamos realmente VER a Via Láctea.

LS: Nos atiramos a uma viagem com ventos de 25 km/h, 9 graus negativos e 40 cm de neve na pista por 15 dias: íamos na direção das Ozarks e foi mesmo uma tremenda duma viagem. Foram 9 meses por 90.000 dólares. Eu ganhei 9 meses por poder estar lá sempre que as crianças chegavam da escola, e um verão com tudo o que sempre quisemos fazer, quando queríamos fazer. Uma época sensacional.

Eu tinha 32 anos na época, voltamos quando eu tinha 33, entrando em uma nova carreira que apareceu, mas nós continuamos e tudo deu certo. Eu tive nove meses: superlegais! Outra coisa é que todo mundo se lembra disso, eu ainda tenho a propriedade, e um dia desses todo mundo vai dar um jeito de voltar.

ML: Teve uma coisa que o Cason escreveu em um e-mail nesta semana, sobre o fato de que você, Larry, tinha comentado sobre esta idéia (do Cavalo Marinho) com alguns amigos no trabalho...

LS: Sim, que dizer, estamos na Louisiana. E eu falei para eles "Eu vou me reunir com uns caras super legais que o Cason conhece, e conversar sobre o que significa ser homem nos anos 90", e eu disse a eles: "Pessoal, me digam: como foi o desenvolvimento de vocês, como vocês se tornaram homens, como foi que vocês compreenderam que eram 'um homem'? O que é que orienta vocês quanto ao que é aceitável para as mulheres, o que é aceitável como um homem para as mulheres, o que é aceitável como um homem para outro homem, para uma avó como um neto homem, em vez de como uma neta... o que orienta o quê? Fossem professores, fossem o que fossem... e íamos pela ordem, na mesa, com o próximo cara e o seguinte, mas tudo se desviou, acabou virando um "Quem ensinou você a caçar e pescar?"

ML: Puxa. E, lógico, isto não é algo sobre o que eles já tivessem conversado, era só: Homem é igual a caçar e pescar.

LS: Homem é igual a caçar e pescar porque é nesse momento que ele fica homem-a-homem. Momentos homem-a-homem era isso. Antes disso era a mãe e o lar. Fora disso, é caçar e pescar.

ML: Então é "O que é que um homem pode ensinar a você que as mulheres não podem?."

CS: O que eu acho interessante nisso é que, para a maioria das pessoas, de nós que não fomos criados em área rural como aquela, que não existe "caça e pesca", que isso era parte da experiência de estreitamento de laços na aprendizagem de como ser um homem. Com meu pai era canoagem. Mas eu fico pensando no quanto tentamos agora diminuir a importância disso, desvalorizar essa experiência ou satirizá-la, dizendo "estreitamento de laços masculino". Nós, de algum modo, fazemos disso uma piada e dizemos: "Ah, eles estão indo 'estreitar seus laços masculinos', e isso acaba ficando meio embaraçoso.
ML: E quando as mulheres fazem o estreitamento de laços dela, parece que é apenas uma coisa que as mulheres "fazem". É algo que não se pode questionar. Não dá para "tirar sarro" disso.

CS: É, não.

ML: O que implica que há algo pejorativo no estreitamento de laços masculino, como se houvesse alguma coisa de que se ter vergonha.

CS: Eu estava pensando outro dia, se você diz "homem" agora, o que é que nós colocamos, denotativa e conotativamente. Quero dizer, se começarmos a fazer uma lista do que significa ser homem, é quase uma vergonha, especialmente se você for homem e branco, nós somos o flagelo de Deus, o flagelo da sociedade. Como homem no sentido de pai "cansadão" ou marido agressor ou pai agressor ou dominador ou bobalhão ou o cara que nunca pede conselhos ou está tentando dominar de algum modo, especialmente homens brancos, e eu estava tentando pensar em uma única imagem positiva masculina que tenha sobrado, e não consegui pensar em uma única definição positiva denotativa ou conotativamente para "homem"... aqui (nos EUA)... eu não posso falar em relação a outro país ou sociedade, ou o que for.
ML: Mas você ficaria surpreso com a quantidade deles que poderíamos mencionar, pelo menos no que se refere à civilização ocidental.

CS: Do que se pode ter orgulho em ser homem?

ML: Não consigo pensar nesta questão sem pender na direção de quais são os atributos, se for este um sinônimo à altura... porque eu acho que, na época em que estamos vivendo, principalmente com o advento do computador, há tantos afazeres que pessoas de qualquer um dos gêneros podem executar, ou que foram compartilhados a um tal ponto que a linha que os divide se tornou difusa. Eu realmente não acho que haja coisa alguma que apenas "homens" possam fazer, ou que façam atualmente.

LS: Uma coisa em que posso pensar é no papel de "provedor".

CS: Você acha mesmo?

LS: Acho que o provedor ainda resiste.

ML: Mas então eu acho que é uma coisa muito velada.

LS: Eu acho que, mesmo com uma renda maior que a de seu marido, ou maior que a de se namorado, ou o que for, ainda há a exigência de que o homem proporcione a estabilidade da renda.

CS: E isto me lembra do seu amigo, Malcolm, o Peter, que disse: "Meu contrato está acabando. Eu só quero ter alguns meses de folga com minhas filhas", e imediatamente a esposa e a mãe dele disseram algo como "Como assim?"

ML: "É uma grande consideração e muito carinhoso de sua parte, Pete, mas e o contracheque?"

YJ: Com minha esposa e eu, nós ainda recaímos em papéis nos quais podemos nos alternar, mas será uma coisa agradável, para ambos, fazer alguma dessas coisas, como ontem à noite, quando ela estava de saída para ir a Capitol Hill de carro, e o farol baixo queimou, só funcionava o farol alto. Então me sinto bem em dizer: "Puxa, acabei de comprar esse farol, deixe-me ir lá fora e trocá-los." Coloquei meu casacão, e estava frio lá fora, e simplesmente senti algo positivo em fazer aquilo.

E então tem coisa em que eu nem sequer penso, lá em casa. Ela simplesmente tem o "polegar verde", provavelmente eu poderia ter um também, mas parece que as coisas vivem ou morrem no jardim, e eu nem penso nessas coisas, e ela tem esse talento especial para cuidar do jardim, e fazê-lo ficar com ótima aparência. E esses papéis, sei lá, podem ser coisas positivas nesse sentido.

CS: Pois é. Me sinto como o "cara maduro e responsável" indo lá fora e trocando os faróis, ou fazendo alguma coisa "de homem". Isto dá aquela sensação de "Isto é diferente do que eu espero. Diferente do que estou acostumado a fazer. O fato de eu ter compreendido isso implica que estou ciente de que isto faz parte do que espero fazer, mas implicitamente." Daí, é, você fica achando: "Claro! Acho que isto está certo, é o tipo de coisa que eu devia estar fazendo, mas eu não deveria me estar achando isso, porque eu deveria ser sensível. Eu deveria ser um cara sensível da nova era, e isto é apenas uma das coisas que eu faço. Isto não é necessariamente "masculino"... sabe, todos esses pequenos motivos...

YJ: Na época do Natal, nosso filho Marcel ganhou aquele negócio, aquele helicóptero que decola de um ponto e você atira dardos nele, e a Sienna disse algo como "Minha nossa! Uma arma!". E sou eu quem está brincando com ele, falando "Uau! É muito legal!" E o Marcel também está empolgado com o brinquedo. E é engraçado vê-lo na creche. Na verdade, ele está tendo uma porção de aulas com uns treze meninos e uma ou duas meninas, às vezes. E todos os meninos têm mania de super-heróis, e eu penso: "Será que foram programados para serem assim, ou o que está acontecendo?" Quando vejo Marcel, vejo que ele está sendo programado de diversas maneiras.

LS: Cason e eu conversamos antes sobre como, há vinte anos, eu havia falado com dois outros caras, e nós estávamos discutindo quando é que compreendemos que já éramos homens. Quando é que fomos aceitos, principalmente por nossos pais, como sendo um homem. Cada um comentou que foi realmente tarde, eu tinha 35 antes de perceber isso de verdade, e posso dizer o momento exato em que soube que meu pai tinha me aceitado como um homem.

ML: Qual foi o momento?

LS: Eu estava em um telhado. Meu pai era mecânico e nós estávamos desmontando um telhado e estava quente, meu Deus, estava 40 graus ao sol no oeste do Texas, e meu pai estava comprando alguns materiais de construção para construir uma outra casa, e eu estava lá com ele e nós paramos de trabalhar um pouquinho, bebemos um pouco de água, e estávamos sentados, só olhando. E eu juro por Deus que lembro como se fosse ontem. E conversando, só conversando sobre qualquer coisa, sabe. Falando da mamãe, e falando sobre minha esposa e ficou claro para mim, no que ele falava, que ele não estava conversando comigo como um pai. Ficou claro pelos termos que ele usava, pela forma como falava comigo, pela franqueza que ele demonstrava, que eu não era mais o filho protegido ou sob seus cuidados, eu era um igual.

E quando meu pai morreu, ele tinha sofrido um ataque do coração e estava se recuperando muito bem, ainda no hospital, ele se levantou, foi ao banheiro, e em momento algum admitiu minha presença no quarto. Ele admitiu minha irmã, minha mãe, os tios e tias, mas em nenhum momento me admitiu. Minha interpretação disso é que era claro, se ele tivesse me admitido, que havia uma transição do controle da família. Ele estaria desistindo do controle da família e estaria admitindo o herdeiro. Em vez disso, ele preferiu ignorar a morte, e dizer "Eu posso cuidar disto.".

Cason e eu tínhamos conversado antes sobre ritos de passagem, e chegamos à conclusão de que, para brancos protestantes, e também homens negros protestantes, não existe virtualmente nenhum rito de passagem. Não existe nenhum bar mitzvah

ML: — não tem "caça e pesca"

LS: — Não tem "caça e pesca"

YJ: A chave do carro, talvez.

LS: Mas isso é concedido a você pelo governo, pelo estado, antes de ser concedido pelo pai. Precisamos de um rito de passagem para a masculinidade. Algum aspecto de festividade tribal. Um corte no estômago, ou tatuagens, ou sei lá o quê mais...

YJ: Circuncisão.

LS: É, sei lá o que mais, o que eu quero dizer é que não tem transição nisso.

YJ: Bem, o Marcel não é circuncidado, e então temos a possibilidade de fazer isso, e então, quando ele tiver doze ou treze anos...

ML: É engraçado você ter dito tatuagem, Larry, porque Seattle —

CS: — é a capital da tatuagem.

ML: — e de repente me ocorreu que há uma quantidade impressionante de adolescentes aqui que ficam realmente fascinados com as tatuagens, e tenho certeza de que, em um nível inconsciente ou em um nível subconsciente eles não tiveram um rito de passagem, e então estão sempre tentando passar desse limite, procurando algo.

YJ: Se uma tatuagem não viesse com um pouco de dor, ninguém estaria interessado em ter uma.

LS: É um sacrifício de certo modo: de seu tempo, de si mesmo, e tem de ser —

CS: Ela tem o lado da dor e da perpetuidade.

YJ: Realmente a gente fica pensando se a falta de um rito de passagem é uma das razões de parecermos ter este problema com esta adolescência prolongada mesmo, que nunca termina. As pessoas achando que não querem crescer, ou que não cresceram.

Parte Dois: O Novo Homem. O que há com ele?