Parte Quatro:

O Novo Homem. O que há com ele?

 

LS: Isso me dá essa liberdade. Sinto que posso contar a vocês sobre como e o que era o relacionamento que eu tinha com meu pai, o que aprendi com isso, qual é meu relacionamento com meus filhos, o que aprendi sobre isso e ainda estou aprendendo, quais são os desafios, e reconhecendo os desafios sobre os quais você, Malcolm, está falando. Meu pai era um leitor ávido, também, um homem muito reservado. Minha mãe era uma mulher muito calorosa e gregária. Mas eu sou o primeiro da família a se formar na faculdade. Minha mãe é de uma família de oito irmãos e irmãs. Meu pai teve nove irmãos. Eles eram pessoas do campo. Eu nunca fui do campo.

Desde a época da oitava série, nunca me ocorreu não fazer a faculdade. Eu comecei a economizar dinheiro para a faculdade quando estava na oitava série. Porque sabia que não conseguiria ir para a faculdade se não tivesse o dinheiro. Consegui uma bolsa de estudos e economizava dinheiro o tempo todo, trabalhava 40 horas por semana, ia para a escola 18 a 21 horas por semana, e me formei na escola em quatro anos. Difícil? Com certeza, mas não tão difícil assim.

Agora sou Ph.D., candidato na LSU. Acabo de começar. Na verdade, minha primeira aula é na segunda-feira. Mas é uma empreitada emocionante para mim. Cason está no mestrado, tenho um filho que está no segundo ano da faculdade de direito. Todas os outros filhos estão na faculdade. E eu adoraria conseguir o Ph.D., soa como algo divertido para mim. Pura diversão. Não há nenhum outro motivo, a não ser o fato de que quero me divertir.

E então tenho uma chance de falar com Cason sobre isso, e esse relacionamento muda um pouco, porque um comentário que ele fez foi: "Você vai conseguir esse grau antes de mim." E isso exerce uma pressão diferente sobre mim.

ML: Provavelmente sobre o Cason, também.

LS: Provavelmente. Mas eu quero a confiança dele em seu sucesso, e acho que ele se sente confiante em seu próprio sucesso, isso é algo separado de minhas realizações. Eu quero essa separação. As realizações dele na vida são suas realizações, e são motivo de um orgulho enorme para mim, porque então eu tenho uma chance de dizer para meus amigos: "Sim, meu filho está no mestrado ou sim, meus filhos estão na faculdade." Tenho muito orgulho disso, e não acredito que orgulho seja algo pecaminoso. E esse orgulho carrega em si um risco, porque, quando você fala desse orgulho, a questão que volta é "E como é que eles estão?" E eu não sou eles. Eles têm o direito de desistir, de fracassar, de mudar de idéia, de fazer o que for. Mas eu vinculei, inexoravelmente, meu sucesso ao deles.

CS: E este é o pior fardo em todo o universo para se carregar. Não sei se vocês sabem disso, mas faz tudo... um tremendo medo de não fazer... de fazer algo de que você não sinta orgulho.

LS: Ah, veja, eu não sinto esse problema de maneira alguma.

CS: Ah, a tremenda quantidade de pressão e receio que coloquei em mim mesmo, para garantir que faço algo de que você se sentiria orgulhoso, e então possa falar para seus amigos e falar boas coisas sobre mim, e eu não consigo pensar em nada que tenha feito que realmente recaia nessa descrição, de que você realmente pudesse se orgulhar.

LS: Ah, eu acho que tenho orgulho de tudo.

CS: Mas não consigo pensar em mais nada... sim, eu tenho meu próprio negócio, mas não que eu seja algum tipo de guru ou o maior especialista em algum ramo.

LS: Mas eu não tenho nada para colocar na outra categoria. Esta é uma revelação impressionante. Não tenho nada para colocar nessa categoria, nada.

CS: Ok, sou casado. Tenho um casamento maravilhoso, tenho meu próprio negócio. Vou para a escola e sou um aluno permanente. Eu não necessariamente comecei meu próprio negócio, no sentido de que uma empresa me foi dada, de presente.

LS: (Para Yves e Malcolm) Você sabia que a mulher DEU uma empresa para este cara? Já ouviu falar de alguém que GANHOU uma empresa? Não conheço ninguém que tenha conquistado isso.

ML: É um tremendo presente.

CS: O resumo da ópera é: Eu trabalhava para uma mulher oferecendo suporte técnico para uma linha de software contábil para uma empresa, e ela se cansou disso, a família dela tinha zilhões em imóveis nesta área. Ela disse que estava pronta para parar com tudo, não queria mais fazer aquilo, e então ela deu tudo para mim: Aqui está a empresa, aqui estão os clientes, os clientes adoram você, você está fazendo um trabalho ótimo, aqui está. Então, eu não criei a empresa. Só peguei para criar. Estou meramente sustentando a empresa.

E meu pai diz que isso é uma tremenda fonte de orgulho, e eu vivo em receio constante que o que eu faço, ou o que é interessante para mim não tenha nenhum interesse para ele e uma fonte de... não necessariamente nenhum orgulho ou nenhuma vergonha, mas uma fonte de dor que eu tenho um tremendo interesse pelas artes e coisas sem fins lucrativos, e ele vê isso como quase o fim do mundo. E aqui está o filho dele, que tem uma sagacidade para os negócios e que é uma grande promessa nos negócios, que é um ótimo especialista no mundo dos negócios, que ele prefere as virtualmente nada lucrativas artes, e estar na administração de artes. Como ele poderia preferir isso, se tem toda essa possibilidade de ser algo mais?

Então eu disse: "OK, o que eu faço e o que é interessante para mim e é fonte de alegria para mim é frustrante para mim, porque eu não sou pago para isso. Mas, alegria para mim nas artes e na administração das artes é difícil de traduzir para os seus amigos, ou para você, como uma fonte de orgulho. "Se meu filho conquistou algo na vida, ou fez algo com sua vida..." ISSO é o que conta. ISSO É O QUE CONTA. Os pais desejam que seus filhos façam ALGO com suas vidas, e esse algo é definido pelo que é importante para ELES.

LS: Sabe, eu sou muito mais indulgente em meu ponto de vista sobre você que sobre mim mesmo. Sou muito mais rígido no ponto de vista do que eu realizei na vida, mas, meu Deus, o que eu quero dizer é que eu gostaria de ter realizado tanto quanto você realizou no tempo em que está vivo.

CS: Pai, aos 26 você havia ampliado um território de vendas dos 500.000 para 40 milhões. Você morava em uma casa enorme, tinha um filho e estava morando em uma casa na Carolina do Norte. Eu estou vivendo minha vida e não tenho filhos. Basicamente, só me ferrei. Eu me diverti, e aprendi bastante, mas não construí nada, comparativamente. Falando comparativamente, no tempo em que estou vivo —

ML: Você acha isto porque não construiu sua própria empresa, ganhou de graça?

CS: Não há conquista nenhuma nisso.

ML: Porque foi um presentão?

CS: Pode crer.

LS: AH, SEM ESSA!!

CS: Eu recebi uma empresa e não a levei a nenhum lugar além disso...

LS: Por que você acha que ela foi dada a você? Você acha que alguém diria "Olha, tá aqui uma empresa para você"?

CS: Por que eu tenho charme. Não, isso é meu único trunfo na vida. Se você tem algo na vida em que você é bom, uma coisa que você faz melhor que qualquer outra coisa, eu identifiquei que sou bom em ter charme. Especialmente para as mulheres. E esta mulher para quem eu trabalhava — Sou uma pessoa muito amável, uma pessoa muito cordial e atenciosa. Então, a parte do charme, as pessoas simplesmente te dão coisas se você tiver charme, e então ela me deu algo, e isso para mim não é realização. O que seria uma realização é construir sobre isso, e isso eu não fiz. Quero dizer, eu tenho a empresa há um ano e meio, e não construí mais merda nenhuma. Só me diverti.

LS: Você tem uma empresa que já dava lucro antes de completar um ano.

CS: Mas eu não precisei criar a clientela.

LS: (Incrédulo) Você me daria... Olha, quantas empresas você conhece que dão lucro antes de cinco anos? Bem poucas. Bem poucas.

YJ: Eu estou em um estado de graça com meus pais agora.

CS: Você fica nesse período de espera até ter uns 30 anos.

YJ: Sempre fui uma decepção terrível para eles, muitas, muitas vezes. Principalmente por eles serem europeus. Quando você vai para escola, se você vai para faculdade você simplesmente a termina, não é? Você não fica enrolando, é só chegar e terminar.

CS: Quatro anos e acabou.

YJ: Depois de dois anos, percebi que eu tinha muita angústia. Eu não sabia o que eu queria fazer e não via nenhuma finalidade em estar ali se eu não sabia o que queria fazer, e daí eu saí. E realmente foi bom para mim pessoalmente. Eu fui e consegui um emprego e economizei dinheiro, fui e morei na Europa por um ano. Mas, quando saí da escola, meus pais ficaram extremamente desapontados comigo. Quero dizer, eles tinham me ajudado na escola e disseram "Se você sair, nunca mais vamos ajudar você novamente".

CS: Nossa!. Que merda.

LS: Isso é que é fazer pressão.

YJ: Mas, sabe, quando você tem 20 anos, você diz "Tá, beleza, vá em frente, vou sair daqui". É engraçado chegar nesse ponto, em que se volta para a escola, que estou terminando, e tenho essa ótima esposa, temos um filho. Minha mãe está tão feliz por nós termos o filhote, e então agora estou mesmo ficando intrigado por estar nesse estado de graça total. E tem ainda minha irmã, que ainda é selvagem e tudo, e não está nesse mesmo estado de graça.

CS: Mas há expectativas que não são faladas, especialmente com homens.

YJ: Talvez, só por acaso, a gente tenha correspondido a muitas das expectativas deles. E é bastante engraçado ver meu pai, ele é mesmo um ótimo avô para o Marcel. Ele brinca muito com ele, todos nos divertimos muito quando estamos juntos. E não tenho tanta certeza, mas fico pensando em quando eu era pequeno. Acho que, talvez, meu pai realmente foi um ótimo pai quando eu era pequeno. Me lembro de que fazíamos MUITAS coisas juntos. E acho que, de diversas formas, ele é muito similar ao jeito como eu era, e acho que houve um ponto em que ele foi para escola para o mestrado, e tal, em que ele começou a ter de estar ausente. E quando terminou, uns quatro anos depois, ele não sabia mais quem eu era, e nesse ponto eu tinha 11 ou 12 anos, e acho que ele sentiu-se incapaz de me elevar à condição de adulto, aquela história do rito de passagem.

LS: Ele não sabia como.

YJ: Sim, porque ele deixou de ter certeza de quem eu era, porque perdeu todo aquele tempo e eu não acho que tudo tenha acontecido de propósito. Mas acho que ele foi mesmo ótimo quando eu era jovem, mas que ele então foi incapaz de me elevar à condição de adulto naquele ponto, e provavelmente é disso que acho que parte nossa disparidade.

LS: Você é o mais velho?

YJ: Sim, somos só eu e minha irmã.

LS: Você é mais velho?

ML: Sou mais novo, minha irmã tem dois anos a mais que eu.

LS: Cason é o mais velho e eu sou o mais velho. Somos só eu e minhas irmãs. Não há dúvida de que, se alguém tem de conquistar o sucesso "É você que é homem". E assim foi. Minha irmã e eu não somos muito próximos. Nem um pouco. Eu passei talvez três horas, no máximo, seguidas com minha irmã. Três horas juntos em um carro, só nós dois, e seus comentários principais são o que mais me lembro: "Eu odiei seguir você na escola, porque todo mundo dizia 'Bem, você não é tão inteligente quanto o Larry', ou 'você não tira notas boas como o Larry'."

YJ: Minha irmã disse o mesmo sobre mim.

LS: Ela disse "Eu odiava você". Eu disse "Olha, eu não sou você."

CS: Ela passou a vida inteira dela não sendo você.

LS: Eu disse "Nunca esperei que você fosse eu". Mas nós nunca tivemos um relacionamento. E nunca, jamais, nos arriscamos um com o outro.

Como eu falei para vocês, pessoal, nunca me ocorreu não ir para a faculdade, não faço a mínima idéia do porquê, exceto pelo fato de que alguém, em algum lugar durante minha formação, disse "Você nunca chegará a lugar nenhum se não for para a faculdade".

CS: O que é interessante é que se espera que os garotos e homens conquistem suas realizações, e mesmo assim cada vez mais se nega a eles as ferramentas que foram usadas para se conquistar no passado. Então, estamos no ponto em que se espera que conquistemos tudo o que esses de quem estamos falando esperam que conquistemos, sem as ferramentas que eles usavam para conquistar. Essas ferramentas são a coerção, persuasão, dominação, e seja lá o que for necessário, todo mundo sabe, o poder do controle.

YJ: Sistemas de machões...

CS: É, seja lá o que for, a boa e velha rede de rapazes. Seja o que for, não é mais aceitável. Seja qual tenha sido a razão, ou quem tenha dito isso, não é mais aceitável como um meio de realização. Por isso, a expectativa ainda persiste, e mesmo assim não sabemos. Sei que não sei como conquistar seja o que for que eu deva conquistar. Não sei como simplificar tudo e dizer: "Devo conquistar, e seja lá o que for. Mas mesmo assim, a conquista em si só serve para agravar a crença de que só os homens conquistam. Portanto, se eu conquistar, isso apenas serve de combustível para o fogo do "Eu devo ter feito algo horrendo para ter conquistado o que conquistei. Então, a conquista é uma faca de dois gumes.

YJ: Exato, o efeito é duplo. Tem o aspecto de que qualquer um que não seja um homem branco e conquiste, e tem o pressuposto de que eles conquistaram devido a coisas do sistema como Ação Afirmativa, e assim por diante.

CS: Então, a conquista veio não da vontade própria ou da capacidade própria.

LS: (Se referindo a Cason) Bem, vocês vêem o caso da empresa que foi dada a ele.

(Uma tensão silenciosa tão densa que nem uma serra elétrica a atravessaria.)

CS: Seus filhos da puta.

LS: Mas por que isso não é motivo de orgulho?

CS: Não há mais orgulho na conquista.

LS: Aproveite as circunstâncias. Você tem uma mulher que deu a você uma empresa, aproveite isso.

CS: Isso parece trapaça.

LS: Mas não é mesmo. É aproveitar as circunstâncias. E se eu tivesse uma empresa, e você tivesse trabalho nela, e eu dissesse que dou a você um bônus de que a empresa será sua se você fizer esse tipo de trabalho por um certo período? (Para Cason) Que é exatamente o que você fez. Você ficou voltando ao poço dez bilhões de vezes, dizendo para aquela mulher como construir a empresa dela e ficava sempre no "Mas eu não quero construir uma empresa" tantas vezes que acabou dizendo "Você é superinteligente, por que não faz isso você mesmo?".

CS: Mas isso já estava meio previsto. Acho que o que quero dizer é que leio as histórias de gente chorando as pitangas, das provações e tribulações de (adota uma voz de homem velho) "Nós suamos a camisa por cinco anos e isto nunca deu dinheiro nenhum, e eu trabalhei muito e finalmente cheguei lá."

ML: (Para Cason) Nós podemos ajudar você. Você quer suar a camisa? Você quer ralar? Bem, tem esta revista que estamos começando absolutamente do nada. E todo mundo sabe que não temos dinheiro no momento. "Não importa, adoraríamos ajudar!"

CS: ISTO É, se é que significa algo, É o sonho do homem americano. Ter seu próprio negócio.

YJ: Acho que na verdade aquele anúncio do Jeep diz tudo, você pode trocar a palavra "jeep" por "homens". "Ainda há alguns lugares no planeta onde você não encontrará um homem. Mas, exceto a vasta amplidão e as intermináveis milhas dos oceanos e mares, um homem pode levar você virtualmente a qualquer lugar onde você quiser ir."

LS: É isso.

CS: É, é aquela coisa do oeste selvagem, da fronteira.

Parte Cinco: O Novo Homem. O que há com ele?